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domingo, 8 de abril de 2012

O Romantismo em Tempo de Guerra

Poesia em tempos conturbados, tempos de guerra? Sim. Nestes tempos também. Há 21 anos findava a Guerra do Paraguai (1870), há 3 anos fora assinada a Lei Áurea (abolição dos escravos negros, em 13 de maio de 1888), há 2 anos fora proclamada a República (1889) e transcorreu a Revolução Federalista na região Sul (1893 a 1895), e Miguel dos Santos Paz escreveu seus poemas de 1891 a 1897, antes de tornar-se alfabetizador em distritos rurais de Caçapava do Sul (principalmente no Seivalzinho), Lavras do Sul e São Sepé.

Revoluções, guerras, lutas pelo poder.

Poesia, ensino, alfabetização.

Em um artigo homenageando o dia do professor, Moacyr Scliar escreve: “A frase que Lenin pronunciou quando, em 25 de outubro, os bolcheviques tomaram o Palácio de Inverno, sede da monarquia russa – “Iniciamos agora a construção de uma nova sociedade”- poderia ser dita por um modesto professor em sua, não raro, precária escola. Porque as revoluções mais importantes não são aquelas em que o poder é conquistado a ferro e fogo, em que os inimigos são executados, em que os dirigentes dizem ao povo o que deve ser feito; não, as verdadeiras revoluções ocorrem de maneira quase imperceptível. Quando uma criança escreve, de maneira hesitante, as primeiras letras em seu caderno, temos uma revolução. Quando lê seu primeiro livro, temos uma revolução. Quando aprende a trabalhar com o computador, temos uma revolução.”

Sentir e transmitir o que sente, assim é o poeta.

A poesia transcende o tempo, conflitos, mesquinharias.

Ela estava presente na coesão dos átomos e moléculas que geraram matéria, vida, energia, alma. 

A poesia são as palavras com alma.

Viver é poético.

Neste contexto de transcendência é que temos o prazer e o encantamento de entrar em contato com as poesias de Miguel dos Santos Paz, resgatadas por sua bisneta Lislair Leão Marques – autora das aquarelas- no livro “Flores a Vovô Miguel”, que será lançado na Feira do Livro de Caçapava do Sul em maio vindouro. 

Com características estilísticas do Romantismo, Miguel dos Santos Paz vai tecendo seus poemas, dos quais emergem:
                        
dores permeadas de saudades:

            “Suas rosas desfolharam tão cedo
             Mas, por pesares que não sei definições,
             E, ao lembrar-me,pois, ainda conservo
             Com reserva de todas as afeições”

            “E, nesta vida de ilusões perenes:
             Eu guardo sempre do passado as flores
             Que as idolatro num fervor que preme
             Ficando,ainda, as circunstantes dores”;

juras de amor:

           “Jurei amar-te, meu coração deseja
            Para que vejas este sincero amor
            E quando esta paixão dominar-me a alma
            Já tenho a calma de suportar tal dor”.


Nestes trechos percebemos o romantismo e o lirismo do poeta, que predominam em seus poemas construídos com amores, flores, flores-amores, colibris, estrelas, andorinhas.

Lembrando outro poeta, o santamariense Luis Guilherme do Prado Veppo: 

                “Minha alma andou pelas ruas desta cidade
                 Mais do que o meu corpo
                 Minha alma anda pelas ruas desta cidade
                 Mais do que o meu corpo
                 Minha alma andará pelas ruas desta cidade
                 Mais do que o meu corpo
                 Que inveja meu corpo tem da minha alma”

A alma de Miguel anda e andará pelas ruas e campos desta cidade.
Jacques Duarte Cassel
Médico

2 comentários:

  1. Que texto lindo: a percepção, o romantismo, a elegância...
    Parabéns Jacques e parabéns Lisla, ñ vejo a hr de poder folhear o livro.
    Viver é poesia, tudo depende do ângulo do olhar.

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  2. Obrigada, Deborah! Desde a exposição que visitaste, trabalhamos e resultou em uma edição bem interessante. Vais gostar.

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